sexta-feira, 6 de agosto de 2004

Contos do 186, cap. I: Patologia Rara

Uma breve introdução e justificativa.

Hoje eu ia escrever sobre as sensações de estar encaixotando uma mudança e a importância de uma fita. Porém, como vou passar apenas mais esse dia no atual apartamento, farei algo que sempre tive vontade: relatar os eventos surreais.

Voltando ao conto.

Ontem chegava em casa após meia-noite. Estava cansado, ainda tinha trabalho de faculdade para fazer, encaixotar algo e assim dormir. Porém na portaria fui entretido por Valdemar (anotem, o único porteiro com noção de educação desse condomínio, os outros valem um conto à parte).

Valdemar veio me apontar uma modelo que desfilou no Fashion Rio e tinha sido capturada pelas máquinas da revista Caras. Com um sotaque nordestino carregado, de quem tem orgulho da sua origem, contou que já tinha tido romances com gaúchas bonitas, mas como aquela mulher nunca nem mesmo tinha visto - parecia estar apaixonado.

Não me recordo como, talvez nessas horas meu cérebro me proteja, ele joga à mesa as seguintes palavras: "Já namorei até mesmo um travesti, sabia?".

Choque.

Ainda em choque.

Reação: "Como assim Valdemar? Você nunca percebeu? Não viu “gogo" ou marca de barba? Não fez o teste do Crocodilo Dundee?". Não, nada. Três meses durou a relação. Três meses que passaram, usando suas palavras: "apertava a linda-gaúcha-alta e nada".

Até certo dia em que o cenário estava montado. Ambiente só para os dois, a música, a luz, uma garrafa e copos com cachaça, o "aperto" certo e ela cedeu. Nesse momento o imaginei comemorando sua estratégia vitoriosa até se confrontar com a dura verdade.

Claro que isso não bastou para punir minha curiosidade. Valdemar me descreveu detalhadamente o órgão genital da gaúcha, dizia ser idêntico ao de uma mulher, porém não possuía "o buraco que sai o neném e nem o lugar pra meter o pênis" (aos três leitores me desculpem por não conseguir resistir em relatar tais palavras literalmente). Também ressaltou a protuberância que seria o "buraquinho pra fazer xixi", seu gestual indicava que parecia a última falange de um mindinho.

Como resultado ele se afastou aos poucos até o fim do romance (provavelmente não queria magoar a moça, como disse com outras palavras: Valdemar “é um bom menino”). Mais tarde veio a se abrir com uma doutora que esclareceu todo caso estar se tratando e romanceando com uma hermafrodita. Com isso ele conclui questionando a mim: "sabia que existia isso? Eu vi".

Digam-me, por mais que esteja ansioso para começar minha nova vida no "Mirante Schustoff-Bulkool", como posso não sentir falta desses momentos surreais? Ou deveria sentir-me aliviado?

5 comentários:

Anônimo disse...

Aliviado. Definitivamente, aliviado.
Ou, no caso do Waldemar: Ali, viado!

Anônimo disse...

Em tempo: a emoção está de volta!
O desafio está lançado...
E só pode haver um!
Visite o blog do Gavlês.

Anônimo disse...

O Valdemar é uma figura mesmo!!
Acho q até eu sentirei falta dele qdo for te visitar.Se lembra do dia da pizza??
bjocas

Anônimo disse...

Sensacionaaaaaalllll!!!!! E o Valdemar fez o quê? Rolou o lado B mesmo? Ele só soube que era um homem quando a médica falou? Como vc nunca contou essa história antes?!?!?!?!

Anônimo disse...

E eu, que moro nesse prédio, cumprimento este porteiro todas as noite, não sabia disso!!!!!!! comigo, ele só fala de igreja!! deve ter sido depois desse incidente que ele resolveu correr para a salvação...