segunda-feira, 30 de agosto de 2004

Ode a uma velha amiga

Durante muitos anos uma boa amiga esteve comigo, acompanhou nos momentos mais incríveis e prazerosos. Ajudou a realizar feitos que foram, e em alguns casos ainda são, citados como anormais. Parceira de Dona Nil, churrascarias, rodízio de massas e/ou pizzas e, principalmente, comida da Dona Teresa – quando mostrava sua melhor forma.

De acordo com nossa intimidade, dava sinais que não era mais a mesma, no dia-a-dia, pequenos sinais como não limpar o prato de lasanha da Dona Nil, permitir uma manhã em jejum e outros que somente eu poderia compreender. Então, tudo tem um fim. E mesmo nesse fim, essa amiga esteve ao lado e lutou para que tudo corresse bem, foi forçada e ainda assim mostrou disposição.

O grande esforço resultou em uma conclusão sábia, de mente limpa e que concluí a fase de uma vida: “I’m too old for this shit”. Mesmo velha, amiga, saiba que estarei sempre ao seu lado e, principalmente, nas minhas mais saborosas lembranças.

Deixo a todos suas últimas palavras em plena atividade: “saiu da vida para entrar na história”.

sexta-feira, 27 de agosto de 2004

De parar o trânsito

Realmente estava acontecendo. No meio da Rua do Acre, quase onde ocorre a interseção com a Marechal Floriano, no centro do Rio de Janeiro, às 19:30 h. Um reclamava o tempo todo, outros dois se faziam de desentendidos e o verdadeiro “show” era realizado pela copula de um fervoroso casal, o macho por cima e a fêmea por baixo. No meio da rua.

Os carros paravam, buzinavam e tentavam aplacar a libido da fêmea, a qual tudo indicava estar no cio. Principalmente pelo outro macho que tentava, mesmo com o primeiro já copulando, introduzi-la.

O centro da cidade parou pra ver. Pedestres e carros (esses pareciam realmente dispostos a fazer de tudo menos atropelar o trio). E a diversão não acabava, mesmo quando um homem se aproximou armado com chinelos e assim batia nas nádegas dos machos. Nada, eles continuavam.

Não pude assistir o desfecho da pornô-chanchada. De uma forma trajicômica fico curioso em saber como acabou, será que se deitaram no asfalto da Rua do Acre e tiveram um romance a três? Se ela engravidou, como saber quem é o pai? E isso lá irá importar? Ou apenas o ato de amor seria digno de importância? Amor?

Várias questões.

Isso realmente aconteceu. Nesse devido horário e devido local, na noite do dia 26 de agosto de 2004. Mas antes que as mentes mais torpes cheguem ao seu ápice, sou obrigado a estragar-lhe o prazer e reforçar: eram apenas cães.

Parafraseando alguém nesse fim de semana: odeio ter surrealis.

quinta-feira, 26 de agosto de 2004

Agora sim, falo de Balzac

Como escrevi no post anterior, fomos assistir "Balzac e a costureirinha chinesa". Fala sobre a história de dois jovens da cidade grande que vão ser reeducados em uma aldeia nas montanhas chinesas no início da década de 70.

Na verdade esse é o pano de fundo para a transmitir o impacto que a cultura causa em tal aldeia. A reação do povo e o quanto isso pode mudar suas vidas. Além de ótima fotografia, belas atuações e grande cenas o enredo pode nos levar a admirir o "mito do bom selvagem" e depois notar as "letras miúdas" de cada personagem.

Respondendo a Nandinha, sim vale muito a pena ver.

Assim como vale a pena ler a crítica do nosso amigo conspirador sobre o filme e ler o último Tok do meu velho amigo. Jaba no ar.

quarta-feira, 25 de agosto de 2004

Ocas

Fomos ontem ao cinema assistir "Balzac e a costureirinha chinesa", antes de qualquer crítica, vale mais falar sobre a revista da Ocas. Um projeto em que os vendedores autorizados recebem R$ 1,50 de cada exemplar vendido por R$ 2,00. Tais vendedores são ou foram de rua e isso os ajuda a viver melhor. Me amarrei na revista, no projeto e vou ajudar sempre que puder.

Isso deve ser acréscido ao post que li do meu amigo Coimbra no Alta Fidelidade. Post esse em que ele narra uma tentativa de assalto e faz uma breve reflexão sobre a violência do Rio. Sim, a cidade é perigosa (como já diria outro amigo nosso), mas o mais importante é pensar: o que você faz para ajudar a acabar com essa violência?

Eu, nada demais. Mas estou disposto a ajudar quando tiver oportunidade e encontrar algo que passe confiabilidade de um trabalho sério que possa gerar resultados práticos. Como vi na Ocas.

sábado, 21 de agosto de 2004

Alívio

Um fim de semana com ótimas idéias e oportunidades. Afinal de contas, acabou o período mais pesado da faculdade, o trabalho está andando bem e a arrumação da casa está indo em um ritmo curioso (ontem foram menos 3 caixas).

Na verdade, posso dizer que o fim de semana começou desde quinta a noite, no Mike’s Haus com bons amigos, boas Erdingers e uma catarse resultante da overdose de tarefas. Posso garantir, Erdinger não dá ressaca.

Ontem, sem vontade de sair, arrumei a casa com ajuda do Ock, batemos um bom papo e assistimos um bom filme. Durante o papo chegamos a conclusão que a culpa é daquele desgraçado que inventou a palavra, não seria melhor a época em que apenas produzíamos sons selvagens e tomávamos nossas fêmeas no tacape?

Lelê chega amanhã, ainda estou com muita saudade e agora, ansioso.

quarta-feira, 18 de agosto de 2004

Contos do 186, cap. II: Ataque surpresa

Acredito que a coisa mais incomum do meu antigo prédio fosse a vizinhança, formada pelo grupo mais heterogêneo do mundo. Um desses era o casal de senhores que moravam no oitavo andar.

Tal casal pouco saía de casa e sempre que fazia alguma aparição mostravam-se muito educados e singelos. Vinham a lembrar até mesmo Seu Amílcar e Dona Arminda (descritos no antigo folhetim do Casseta e Planeta Urgente).

Os boatos começaram a correr não me lembro exatamente quando, mas eles diziam que o apartamento dos nossos personagens de hoje seria a fonte de todas as baratas que viessem a aparecer no prédio.

Quando o boato cresceu a ponto de tornar-se real, a síndica na ocasião (uma senhora com quase 80 anos de idade que andava pelo prédio durante todo o dia) coligada com outros moradores preparou um ataque ao covil dos insetos.

A dita síndica e outra vizinha tocou a campainha do casal de velhinhos e ao senhor abrir a porta, sem que pudesse pensar a dupla em missão empurra para dentro do apartamento uma equipe de detetização para assim realizarem a limpeza.

Alguns dizem que foi um engano vergonhoso. Outros contavam que durante o embate foram mortas e levadas ao corredor do prédio, como em uma vala, mais de cem baratas. Os mesmos contam que a senhora veio agradecer a todos envolvidos, pois se dizia impossibilitada pelo marido de fazer algo contra os insetos e assim esses apenas cresciam em número, fazendo-a dormir completamente coberta para evitar que as criaturinhas caminhassem pelo seu corpo.

Nunca decidi em que versão acreditar. Normalmente escolho a mais engraçada, mas nesse caso a visualização de uma senhora de um metro e meio, com quase 80 anos de idade invadir com um pelotão o apartamento alheio preparada para vencer um combate passível de ser comparado a Normandia, já me basta.

terça-feira, 17 de agosto de 2004

Saudades

Sentimento estranho e sincero esse que nos mostra quanto algo ou alguém faz falta. Podemos sentir saudades de coisas que realmente não fazem mais parte da nossa vida, mas em grande maioria sentimos daquilo que faz parte, e no devido momento não está conosco. Isso o torna estranho.

Sinto saudades dela, que nesse exato momento (como em todos os outros) faz parte dos meus planos e da minha vida. Pena que enquanto estou digitando essas linhas para relaxar entre um trabalho e outro ela está longe, também trabalhando.

Para não dizer que estou deixando de seguir um padrão, deixo uma pergunta para qual um conhecido abriu meus olhos: qual a diferença entre o comum e o normal? porque algumas coisas podem se tornar comuns, mas nunca serão normais? e principalmente, porque aceitamos tais anormalidades?

Lelê, estou com saudades.

domingo, 15 de agosto de 2004

Palavras Libertadoras

Durante um singelo almoço com minha esposa e nossos compadres, Rodrigo e Carolina, viemos a discutir sobre a existência e uso de um termo tão libertador que seria esse capaz de aliviar tensões, trazer razão em momentos de plena discussão e até mesmo evitar problemas cardíacos (como sempre diz minha sogra-avó e quem seria eu pra discordar de uma senhora de 81 anos bem vividos?).

Sendo assim penso e questiono: caso esse termo seja trazido para o cotidiano, tornando-se corriqueiro. Devido à banalidade do uso, perderia ele seu poder?

Mais importante sugiro que vocês (poucos) freqüentadores desse Edifício, pensem e respondam – mesmo que interiormente – a quem vocês mandariam “tomar no cu”? (sintam-se libertos)

quarta-feira, 11 de agosto de 2004

Fazer doer no ponto certo

Como Odessa Cotter, interpretada pela Whoopi Goldberg, que apoiando o boicote aos ônibus "feito" por Martin Luther King foi para o trabalho e casa todos os dias a pé, fazendo uma longa caminhada, os ingleses começaram uma campanha de consumo social que tem se popularizado. Eles deixam de comprar produtos de empresas que possuam atitudes politicamente incorretas. Assim, alguns britânicos estão deixando de comprar Nike, Coca-Cola e outros.

Isso apoia a teoria que venho formando, sem ser muito criativo, em que não vivemos em um mundo democrata governamental, vivemos em um espaço corporativista e tais corporações são as únicas instituições que realmente possuem o poder de mudar algumas coisas. Basta fazê-los sentir no bolso.

Agora entra a questão: nós brasileiros, com a cultura da acomodação, poderíamos iniciar um processo de consumo social?

terça-feira, 10 de agosto de 2004

Até queimar a mão

Estou para comentar sobre esse filme desde a estréia, quando o vimos. Fahrenheit 11 de Setembro é mais uma obra do Michael Moore, que com o formato de documentário apresenta sua visão social e política.

Nesse filme Moore fez uma direção e edição parcial sem pudores. Seu objetivo era mostrar as coisas da formas mais parciais possível, anti-Bush. Acerta em cheio no começo e meio, no fim pode até ser culpa do sono que sentia, mas começei a achar o filme arrastado.

Através de cenas simples e, politicamente fortes, Moore nos faz pensar e ficarmos indignados em como nada foi feito contra todas as ações tomadas de acordo com decisões do Bush e pior, muito pouco foi noticiado. Não só somos seríamos cegos, como a imprensa americana se fez de cega.

Sobre o apartamento.

Os armários estão começando a ser ocupados, a infra-estrutura está sendo concluída e já quase temos condições normais de vida. Ainda em plena bagunça, mas firme e forte. 26 caixas e contando.

segunda-feira, 9 de agosto de 2004

Enfim, Mirante

Esse é o primeiro post no Mirante Schustoff-Bulkool. Fizemos a mudança no sábado, estamos entulhados de caixas e poeira pelo apartamento, mas curtindo muito cada momento dessa nova fase.

Ainda não conseguimos arrumar nenhum cômodo do apartamento, está tudo espalhado e lotado. Mas esperamos que isso seja resolvido em breve, após a devida faxina nos armários - acho que a cozinha ou suíte serão os primeiros a serem resolvidos.

Não posso deixar de agradecer ao Gaulês, Lua e Nanda pela grande força que deram.

Amanhã imagino voltar aos posts normais. ;)


sexta-feira, 6 de agosto de 2004

Contos do 186, cap. I: Patologia Rara

Uma breve introdução e justificativa.

Hoje eu ia escrever sobre as sensações de estar encaixotando uma mudança e a importância de uma fita. Porém, como vou passar apenas mais esse dia no atual apartamento, farei algo que sempre tive vontade: relatar os eventos surreais.

Voltando ao conto.

Ontem chegava em casa após meia-noite. Estava cansado, ainda tinha trabalho de faculdade para fazer, encaixotar algo e assim dormir. Porém na portaria fui entretido por Valdemar (anotem, o único porteiro com noção de educação desse condomínio, os outros valem um conto à parte).

Valdemar veio me apontar uma modelo que desfilou no Fashion Rio e tinha sido capturada pelas máquinas da revista Caras. Com um sotaque nordestino carregado, de quem tem orgulho da sua origem, contou que já tinha tido romances com gaúchas bonitas, mas como aquela mulher nunca nem mesmo tinha visto - parecia estar apaixonado.

Não me recordo como, talvez nessas horas meu cérebro me proteja, ele joga à mesa as seguintes palavras: "Já namorei até mesmo um travesti, sabia?".

Choque.

Ainda em choque.

Reação: "Como assim Valdemar? Você nunca percebeu? Não viu “gogo" ou marca de barba? Não fez o teste do Crocodilo Dundee?". Não, nada. Três meses durou a relação. Três meses que passaram, usando suas palavras: "apertava a linda-gaúcha-alta e nada".

Até certo dia em que o cenário estava montado. Ambiente só para os dois, a música, a luz, uma garrafa e copos com cachaça, o "aperto" certo e ela cedeu. Nesse momento o imaginei comemorando sua estratégia vitoriosa até se confrontar com a dura verdade.

Claro que isso não bastou para punir minha curiosidade. Valdemar me descreveu detalhadamente o órgão genital da gaúcha, dizia ser idêntico ao de uma mulher, porém não possuía "o buraco que sai o neném e nem o lugar pra meter o pênis" (aos três leitores me desculpem por não conseguir resistir em relatar tais palavras literalmente). Também ressaltou a protuberância que seria o "buraquinho pra fazer xixi", seu gestual indicava que parecia a última falange de um mindinho.

Como resultado ele se afastou aos poucos até o fim do romance (provavelmente não queria magoar a moça, como disse com outras palavras: Valdemar “é um bom menino”). Mais tarde veio a se abrir com uma doutora que esclareceu todo caso estar se tratando e romanceando com uma hermafrodita. Com isso ele conclui questionando a mim: "sabia que existia isso? Eu vi".

Digam-me, por mais que esteja ansioso para começar minha nova vida no "Mirante Schustoff-Bulkool", como posso não sentir falta desses momentos surreais? Ou deveria sentir-me aliviado?

quinta-feira, 5 de agosto de 2004

E agora?

Meio da madrugada do dia 03 para 04 de agosto. Acabo de concluir mais uma etapa de trabalhos de faculdade, também de encaixotar mais uma caixa de livros e finalmente me deparo com a crise do papel (?) branco ao olhar para esse blog. E agora?

Não quero falar mais uma vez de mudança, mas fica difícil ao estar com isso na minha cabeça a maior parte do tempo. Posso pensar nas outras coisas que estou fazendo, como lendo a saga do Mochileiro da Galáxia. Pronto, essa é boa.

Sempre ouvi o Ock, velho amigo e vizinho, falar dessa saga - desde moleque ele falava disso - nunca consegui encontrar ou ler o dito cujo. Esse ano, os livros estão sendo reeditados, parece que é devido ao produção cinematográfica da saga, comprei e já li o primeiro (O Guia dos Mochileiros da Galáxia) e estou lendo o segundo (O Restaurante no Fim do Universo).

Já posso concluir que os livros merecem a fama. Ficção científica sem cara de ficção científica (isso pra mim é ótimo), boas tiradas de humor e um pouco de filosófia irônica. Vale a leitura e a compra, pra meu atual momento de vida é perfeito - pois é uma leitura rápida e fácil.

Agora que o branco sumiu, vieram as outras idéias, mas vou guardar na manga pra amanhã ou outros dias. Quem sabe assim consigo evitar futuras "crises do branco"?

quarta-feira, 4 de agosto de 2004

Mudanças

Sou adepto das mudanças. O cotidiano, a repetição por longo tempo, me cansa, me desmotiva. Sou ávido pela novidade, quero ver tudo mudando e evoluindo.

Mas nem sempre esse processo é fácil. Alguns vizinhos e amigos sabem que estamos nos mudando de apartamento, no meio desse processo a vida profissional vai a todo vapor, assim como na faculdade - o problema é que essa velocidade toda exige uma dedicação para casa-trabalho-estudo que tende a ultrapassar o possível. Ainda assim, estamos levando e fazendo tudo.

Talvez essa velocidade toda, e mais os novos amigos que aderiram ao Blog, tenham me motivado a voltar pro Edifício. Pra poder sentar e enquanto escrevo essas linhas, pensar com um pouco mais de calma sobre o meu redor.



terça-feira, 3 de agosto de 2004

Alô! Tem alguém aí?

Muito tempo não venho aqui. Isso está um pouco bagunçado, um pouco empoeirado e abandonado. Vou subir os andares e rever O Edifício, ver quem ficou e o que mudou.

Subindo encontro novos, porém familiares, vizinhos. São recem casados vivendo em um lugar feliz (noc noc). Esse andar passou a ter som de festa, integral.

Mais um andar. Um estusiasta, figura que está descobrindo uma grande vocação interpretando palavras e ações, me diz que pode desenterrar letras mortas (noc noc). Segue contente, como um jovem filósofo contemporâneo.

Outro andar novo, embora a administração tenha largado de mão, os moradores continuaram a surgir (o que será que tem nesse Edifício?). Uma reunião de intelectuais, com discussões afiadas e sábias, falam baixo e pausadamente - com eventuais surtos de euforia - como se estivessem conspirando (noc noc). Escuto, aprendo e continuo.

Alguns antigos ainda estão por aqui. Outros se foram, deixando saudades e alguns apenas lembranças. Aos novos bem vindos, porém ativos, bem vindos. Aos antigos, bom revê-los. Aos que foram, boa viagem.

Voltar é sempre prazeroso, a questão que fica é: por quanto tempo?