terça-feira, 10 de março de 2009

Síndrome do Canivete Suíço - parte I

Este post é o primeiro para falar sobre as relações que temos com determinadas mídias hoje em dia. Tenho pensado nisto e percebido como as coisas mudaram gerando uma síndrome do canivete suíço.

Atualmente queremos fazer e vivenciar um pouco de tudo. Similar à famosa ferramenta importada dos alpes.

Neste primeiro momento, se você estava vivo nos anos 80 e início dos 90 e já era uma cabeça pensante, tente lembrar-se de como eram as suas relações com alguns elementos e mídias.

A televisão tinha somente aqueles canais, nem fechados ou abertos. Em uma parte dos anos 80 nem controle remoto existia. Então vamos lá, com poucos canais e poucas opções pra assistir a forma como as programações eram montadas afetavam a nossa relação com a televisão. A grade era construída pensando na fidelização do telespectador e sem o controle remoto os intervalos comerciais eram usadas para ir ao banheiro, conversar ou ainda fazer a pipoca para acompanhar a Tela Quente.

Falando sobre Tela Quente, muita coisa realmente foi inédita no programa. Se você não tinha assistido a um filme no cinema, tinha que esperar quase um ano para chegar às locadoras ou à programação das emissoras, mesmo que fosse em um Corujão para os filmes mais tenebrosos ou picantes (que em termos de produção estes temas poderiam estar juntos). Isto era a TV com Silvio Santos, Cid Moreira, Xuxa na parte da manhã e novelas, apenas 4 novelas, que eram as três da Rede Globo e mais tarde uma da TV Manchete.

As relações pessoais também eram tão diferentes. Para falar com um amigo você ligava para a casa dele e deixava um recado caso ele não estivesse. Se o encontrasse, a classe-média, através de suas matriarcas ou patriarcas contavam os minutos da ligação - até hoje os meus pais se preocupam com o tempo do papo quando ligo para eles, mesmo que eu tenha um plano de telefone especial e pague o mesmo para local ou DDD.

Se a única forma de encontrar o seu amigo era através dos telefones fixos, lembre como eram marcados os encontros. Sempre em determinado horário e local exatos e ainda existia a espera, que gerava xingamentos se fosse aguardando o camarada ou uma boa ansiedade enquanto a "mulherzinha que estava pegando" se aproximava. Li muitos livros esperando a minha namorada, antes de virar esposa. Depois vieram os pagers para começar a mudar este cenário.

Já a música - a trilha sonora da vida era menos presente. Para ouvir as suas músicas você precisava de um Walkman ou um Discman, que tocavam respectivamente fita k-7 ou CD. E os Discman eram uma porcaria, pulavam por qualquer motivo. Mesmo depois do meu primeiro, mantive o Walkman, que exigia o acompanhamento de pilhas e muitas K-7s na mochila.

Para ouvir sons novos eram feitas sessões nas casas dos amigos, atrás dos bolachões de vinil ou já dos CDs, mas estes últimos eram caros, muito caros (isto não mudou). E quando se ouvia algo de que realmente se gostava o jeito era levar a tal da K-7 e gravar álbuns ou fazer as clássicas coletâneas, o que deu origem a uma famosa banda entre os amigos, Diver SOS (desculpa, piada interna).

Outra forma de conhecer material novo era através das rádios, o que te obrigava a prestar atenção no que estava acontecendo na programação. Caso você quisesse gravar algo, tinha que correr e apertar o rec do seu "micro system" ou "três em um" a tempo de não perder muita coisa. As rádios também tinham ouvintes muito definidos, eu era um clássico fã da Fluminense FM. Com tanta dificuldade de encontrar música nova, não era incomum as pessoas ouvirem sempre a mesma coisa.

Agora fique com esta nostalgia ou com um sentimento estranho se você não viveu nada disto, e pense em como você se relacionava com estes elementos ou como se relaciona hoje em dia.

Neste mesmo dia, em outro ano:

Um comentário:

Glauco Paiva disse...

Refleti, fiquei nostálgico e cheguei à conclusão de que naquela época... eu tinha mais tempo para ler livros. Preciso ler mais, e eu não estou falando de jornal...
Ótima proposta para reflexão, amigo!